Cultura, culturas e educação de
Alfredo Veiga-Neto, foi publicado em 2003 na Revista Brasileira de Educação,
cujo autor é doutor em educação, professor titular aposentado do Departamento
de Ensino e Currículo da Faculdade de Educação da UFRGS, e atualmente professor
convidado do Programa de Pós-Graduação dessa mesma Universidade e professor do
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Luterana do Brasil.
O texto aborda as origens do
conceito moderno de cultura, as transformações sofridas pelo conceito ao longo
do tempo, além da relação entre cultura e educação, que tem gerado grandes
discussões em razão dos múltiplos sentidos dos dois termos. A relação entre
cultura e educação transformou a pedagogia em palcos de debates teóricos e
práticas em torno das questões culturais, pois o conceito moderno de cultura,
que a torna múltipla, aumenta as dificuldades no campo educacional.
Alfredo Veiga-Neto em seu texto
faz uma distinção entre o conceito de Cultura (com letra maiúscula e no
singular) elaborado no século XVIII por intelectuais alemães e a ideia que
temos hoje de culturas (no plural). A partir de um sentido elaborado por
intelectuais alemães à palavra Kultur, que seria toda a sua contribuição
técnica, material e teórica, é que se constitui uma monocultura, fazendo com
que os modos de vida, valores e produções alemães se tornassem um modelo a ser
seguido pela sociedade. Ou seja, seria um modelo único de cultura, que moldaria
através da educação todos aqueles que não estivessem dentro desse “padrão
cultural.” Daí surgiu à diferenciação entre alta cultura e baixa cultura. Foi
baseado nesse conceito que muitos pedagogos se ocuparam, visto que a educação
foi e ainda é vista como o caminho para elevação cultural.
Alfredo Veiga - Neto a partir da
obra de Kant Sobre a pedagogia, ressalta que para as pessoas estarem de acordo
com essa concepção, tinham que se tornar disciplinadas, cultas, civilizadas e
moralizadas. Assim, o texto discute a questão da cultura e civilidade, que Kant
e outros autores diferenciam, estabelecendo características que cercam o
conceito de cultura ao longo da modernidade.
O texto traz também a questão de
se plurificar a fala, ao invés de “Cultura” passa-se a se falar em “Culturas”,
pois a monocultura foi colocada em questão pela filosofia, antropologia,
lingüística e parte da sociologia. Os essencialistas defendiam a
universalização das culturas através da tese de que seria impossível a tradução
de uma língua para outras línguas, mas a partir da virada lingüística argumenta-se
que não há mais como continuar assumindo aquele sentido universal para a
cultura.
Cultura, culturas e educação é um ótimo texto, pois
traz questionamentos importantes a respeito das várias faces da cultura e da
educação. É um texto de fácil leitura, resumindo em poucas páginas o sentido a
que se dava nos séculos passados à palavra “Cultura” e a sua mudança a partir
dos anos 20 do século passado. É interessante, o esclarecimento que o autor faz
sobre o conteúdo de seu texto, dizendo que não tem a pretensão de sugerir
soluções para as nossas dificuldades na relação entre educação e cultura, porém
propõe a problematização do nosso momento atual por meio da descrição da
emergência do conceito de cultura. Enfim nos traz uma grande reflexão sobre o
papel da educação em uma sociedade cada vez mais de caráter multicultural.
Referência:
VEIGA-NETO, Alfredo.Cultura, culturas e educação. Revista Brasileira de Educação, nº23, mai-ago 2003, p.5-15.
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